
Sou pediatra oncologista e, no Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, celebrado no dia 23 de novembro, recebo a honrosa missão de escrever sobre os sinais e sintomas do câncer infantil com o objetivo de alertar a população para que a doença seja diagnosticada em fases precoces, quando as chances de cura costumam ser maiores e as sequelas, menores. Tarefa de extrema responsabilidade porque o propósito é salvar vidas. São 12.500 casos estimados por ano no Brasil, 230 dos quais em terras capixabas.
É com satisfação que tenho visto crianças e adolescentes chegarem ao Centro de Referência no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória com tempos mais curtos de evolução da doença. Os familiares já não mais se espantam ao saber que sim, criança também pode ser acometida pelo câncer e sim, o câncer tem cura, felizmente. Parece que as campanhas têm surtido efeito. Não é raro vermos mães levarem seus filhos ao médico porque elas próprias já suspeitavam da doença pois haviam visto aquele alerta em algum informativo.
Parabenizo a Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (Acacci) e instituições privadas que realizaram campanhas de combate à doença.
Sem dúvida nenhuma, é uma longa e dolorosa jornada para a criança e sua família, desde o diagnóstico até a alta, muitas vezes oito anos depois, quando, livres da doença, seguem suas vidas.
Nos últimos 50 anos, a taxa de sobrevida de crianças e adolescentes acometidos pelo câncer em países ricos subiu de 30% para mais de 80%, chegando perto de 100% em alguns subgrupos da doença. Esta não é a realidade dos países pobres, onde estes números são inferiores a 10%. No Brasil temos desconfortáveis 64% de probabilidade de cura.
Causa perplexidade constatar que o futuro de uma criança acometida pelo câncer depende largamente da região do mundo em que ela vive. Isto é inaceitável e contraria princípios básicos da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, entre eles, o direito à vida, a gozar do melhor estado de saúde possível e do benefício de serviços médicos, garantidos pelos pais, pela sociedade e pelo Estado.
No Brasil, as causas de morte pelo câncer ocupam o 2º lugar entre 1 e 19 anos de idade. Alguns subgrupos da doença, poucos, felizmente, a despeito da presteza do diagnóstico, por características próprias não respondem satisfatoriamente aos recursos atuais da Medicina. As causas evitáveis de morte são as que requerem mais nossa atenção, pois há que se trabalhar para que não ocorram. A doença avançada gera tratamento mais intensivo, maior morbidade e mortalidade, daí a necessidade de diagnosticar e tratar precocemente.
O diagnóstico precoce é apenas o primeiro passo para o combate à doença. Os desfechos clínicos das crianças e adolescentes acometidos pelo câncer no Brasil refletem os cuidados de saúde que eles recebem tanto na atenção primária quanto na terciária. O aumento da sobrevida é atribuído fundamentalmente ao conjunto de fatores, entre eles o apoio social, a alta qualidade dos centros de referência, pesquisa clínica e educação. Investimentos nestas áreas poderiam fazer parte das agendas dos formuladores de políticas tendo como meta a superação das taxas de sobrevida dos países ricos.